Quando a segurança e a estabilidade falam mais alto

Formado em publicidade em Salvador, Igor decidiu viver nos EUA

Com uma câmera na mão e aproveitando o intervalo do almoço, o baiano de Vitória da Conquista, Igor Silva, 26 anos, vai até a um dos estacionamentos públicos na cidade de Santa Mônica, região metropolitana de Los Angeles, para dar esta entrevista. Aparentemente nervoso e sob os curiosos olhares de quem chegava e saía, ele começa a contar como se mudou para LA e o que o impulsionou a largar tudo no Brasil para arriscar uma vida fora do País.

Em 2006, Igor veio aos Estados Unidos através de um programa de intercâmbio para trabalhar por três meses no resort The Charter at Beaver Creek, localizado em Beaver Creek, no Colorado, região muito procurada no inverno por suas inúmeras estações de esqui. Lá, ele teve a oportunidade de pela primeira vez experimentar o snowboard. “Foi uma experiência sensacional!”, descreve. Os EUA ainda não sofriam com a crise econômica e Igor pôde aliar a diversão aos trabalhos no restaurante e banquetes do hotel.

Com as gorjetas recebidas durante o expediente mais o salário, ele conseguiu juntar um bom dinheiro para gastar com turismo ao final do período de trabalho do intercâmbio. “Não levei muito de volta para o Brasil porque comprei presentes para a família toda e equipamentos eletrônicos para mim.” Ele lembra que já nessa época pensava em ficar no país. “Morei três meses aqui e era meu último ano de faculdade. Aí, fiquei naquela: ‘Será que eu vou, será que eu não vou voltar pro Brasil’”. Até que finalmente ele decidiu retornar a Salvador, a última cidade brasileira em que morou antes de se mudar definitivamente para a terra do Tio Sam.

Durante esse tempo, ele concluiu a faculdade de publicidade e atuou na área. Mas, os planos de morar no exterior não foram esquecidos e a vontade de voltar para os Estados Unidos começou a falar mais alto. “’Sabe de uma? Vou voltar para lá, porque é onde está o negócio, o dinheiro’”, pensou. Resolveu, então, fazer o mesmo programa de intercâmbio de um ano e meio atrás e conseguiu ser contratado novamente pelo resort onde havia trabalhado em 2006, no Colorado.

Na época do intercâmbio, Igor experimentou o snowboard pela primeira vez

Diferente daquela primeira experiência, nesse momento, o mundo sofria os impactos de uma das maiores crises na economia internacional desde o crack da bolsa de Nova Iorque em 1929. Muitas empresas e estabelecimentos fecharam e o número de desempregados cresceu bastante. Igor recorda que a gerência do The Charter at Beaver Creek passou a reunir os funcionários com mais frequência para explicar como o empreendimento estava sendo afetado, pois já não havia tantos hóspedes como nos anos anteriores. Ele e os outros intercambistas, assim como os funcionários, começaram a ficar mais preocupados porque, sem clientes, não haveria gorjetas. Conhecidas em inglês como tips, elas são fundamentais para complementar o salário de quem trabalha no setor de serviços. “Quando você depende do dinheiro dos outros é mais complicado. Lembro que a gente ficou receoso com o que ia acontecer no dia seguinte, por não saber como seriam as gorjetas de amanhã”, explica.

Encerrada a temporada de inverno, era chegada a hora de Igor decidir para onde ir. Como havia estado em Nova Iorque na viagem anterior, essa foi a primeira opção que veio à sua mente. Mas os parentes em LA conseguiram convencê-lo a “dar uma passada” por lá para conhecer um pouco a cidade. Ele, então, arrumou as malas e trocou a região de montanhas rochosas do Colorado pelas praias da costa Oeste do país. Não sabia ele que essa “passada” seria definitiva. “Quando cheguei aqui, fiquei apaixonado. É simplesmente incomparável!” Ele garante que nem a calçada da fama, os estúdios de cinema e as celebridades influenciaram na sua decisão de ficar em Los Angeles. O que Igor buscava na verdade era qualidade de vida. “As pessoas falam de Hollywood, em ser artista de cinema. Que seja! Mas indo para realidade, é uma cidade muito boa de se morar. As pessoas te recebem e te acolhem muito bem, além de ser muito segura”, diz.

Hoje, passados dois anos da crise, a mídia ainda fala em recessão na economia americana. Mas isso não abala Igor. Para ele, a “roubalheira” que há no Brasil é muito pior. Nem o fato do estado da Califórnia estar em situação de falência o deixa assustado ou o faz pensar em uma possível mudança. “Isso aqui para mim ainda é uma riqueza, sabe? Você vê carros de milhares de dólares passando pela rua e se pergunta ‘cadê a recessão?’. O poder aquisitivo das pessoas aqui é alto”, afirma. Na sua opinião, o sucesso de cada um não depende do governador da Califórnia, mas em saber como aproveitar as oportunidades que aparecem na vida.

No momento empregado como delivery guy, o que ele quer mesmo é trabalhar com marketing na web

Essa relação de amor com Los Angeles vai muito além da sua ambição e da busca pela estabilidade financeira. A segurança é o principal fator que, como ele mesmo define, o “prende” à cidade. É que a beleza do estado em que nasceu e o seu povo acolhedor não foram capazes de apagar as cenas de violência que presenciou na Bahia. “Estava dentro do meu carro e vi no veículo da frente a pessoa ser assaltada com uma arma apontada para a cabeça”. Ele também já teve um amigo sequestrado e outro que, após ser roubado, espancado e jogado no meio do mato pelos assaltantes, teve que voltar para casa andando desnudo. “Graças a Deus, nunca passei por esse tipo de situação”, diz .

Traumatizado com essa realidade ainda muito comum nas cidades brasileiras, Igor diz que só volta para o Brasil se tiver literalmente rico e com condições suficientes para pagar segurança armada. Atualmente, trabalhando como delivery guy para um restaurante, ele conta que nunca sofreu nenhum atentado durante as entregas, mesmo carregando tantos equipamentos eletrônicos no seu veículo. “Trabalho o dia inteiro no meu carro. Tem hora que eu estou dormindo e as janelas estão todas abertas. Ninguém vem aqui com uma arma na mão, ou uma faca, para me tirar um centavo. O máximo que acontece é uma pessoa pedindo uma esmola. Não sinto o perigo. E isso bate qualquer dificuldade: dinheiro, saudade da família…”, explica.

Casado com Brittany Anderton, hoje Igor tem como foco oferecer conforto à família

Fora isso, Igor reforça que não trocaria Los Angeles pelo Brasil. E hoje, casado com a americana Brittany Anderton, o regresso está ainda mais distante dos seus planos para o futuro. Até mesmo o crescimento econômico do País nos últimos anos não o atrai.  Sua principal meta é crescer financeiramente e investir na sua educação. “Tenho estudado muito. Vejo que o conhecimento é uma forma de mudança. Você consegue atingir seus objetivos com mais rapidez”. Embora não esteja vinculado a nenhuma universidade ou instituição de ensino, Igor se utiliza da internet como principal ferramenta para os estudos e fonte de pesquisas sobre o assunto “marketing na web”. “Compro diferentes cursos e eu mesmo faço meus horários. Não penso em fazer uma pós agora, até porque tudo que eu preciso estudar, encontro fácil na internet”. Por trás da determinação e busca pela estabilidade desse baiano, está sua preocupação em oferecer conforto à família que começou a construir.

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Voltar ou não voltar, eis a questão!

Para Adrianna, estar próxima à praia é uma das vantagens de morar em Los Angeles

No início, decidir viajar e morar nos Estados Unidos para muitas pessoas é bem fácil e o “sim” parece vir instintivamente. A descoberta de um novo mundo e a busca por um melhor padrão de vida são as principais justificativas dos brasileiros para viver no exterior. O problema começa depois de algum tempo, quando a vida encontra sua rotina. É, então, que os questionamentos aparecem: voltar ao Brasil depois de juntar algum dinheiro ou ficar definitivamente longe do País? A saudade da família só ajuda a aumentar essa incerteza.

Trata-se de uma dor inesquecível. Para ela, não há remédio, nem cura. O paliativo não está na medicina, mas na tecnologia. Ou melhor, nos sites de relacionamentos e programas multimídia como o Skype, que amenizam o sofrimento ao encurtar as distâncias, pelo menos virtuais. Há quem não consiga superar a falta da família e dos amigos e volte para o Brasil. Outros aprendem a lidar com o sentimento e vão ficando.

A decisão sempre é complexa. Que o diga a paulista, Adrianna Lobo, 31, que vive nos Estados Unidos desde 2003. Há oito anos, ela deixou Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, e embarcou para Atlanta, na costa Leste americana. A escolha da cidade se deu pela conveniência de ter primos e tios morando lá. A segurança e o acolhimento dos familiares, porém, não foram suficientes para Adrianna. Como não se identificou com a cidade, um ano e meio depois, ela se mudou para Seattle, no Noroeste do país. A beleza do lugar a encantou, mas as constantes chuvas passaram a afetar o seu humor. Decidiu mais uma vez mudar de cidade, até finalmente chegar em Los Angeles, em 2007.

O tempo ensolarado, a vida perto da praia e o contato com a natureza a fizeram uma apaixonada pelo condado. Foi lá que o mountain bike (MTB) surgiu na sua vida. “No Brasil, trabalhava fazendo a cobertura do Circuito Brasileiro de Corridas de Aventura. Los Angeles é perfeita para esportes outdoor, montanhas all over. Amo!”, anima-se. Mesmo assim, nem a sua descoberta do MTB, nem a sua paixão por LA a ajudaram a resolver o impasse entre permanecer nos Estados Unidos ou regressar para o Brasil.

A situação ficou mais difícil com sua primeira visita ao país após sete anos sem pisar em território brasileiro. Ela achava que a decisão viria naturalmente ao rever os amigos, os familiares e os lugares que costumava frequentar quando morava em Guarulhos. Mas, para sua grande surpresa, não foi o que aconteceu. “Viajei com todas as expectativas de me decidir e voltei para Los Angeles até meio chateada. Me perguntava: por que não quero mais viver em São Paulo?”, conta.

Mas se Adrianna já não pertencia a Guarulhos, tampouco se adaptou à maneira como os americanos se relacionam. Ela reclama da solidão que as vezes sente e das amizades pouco duradouras. “No Brasil, sempre tem alguém com você. É primo, mãe, tio, parente, avó, papagaio… Aqui, a gente se sente muito sozinha, por mais que tenha amigos, namorado, uma vida social até boa. O povo trabalha tanto. O meu melhor amigo me conhece há quatro anos. Isso é pouco comparado ao que eu tenho no Brasil. Às vezes, sinto essa falta de apego”, diz.

Com a ajuda do namorado, Adrianna descobriu no mountain bike um hobby

Só falta exercer o jornalismo. “Vou ser garçonete até quando?”, questiona. Ela acredita que se não tivesse vivido esse tempo nos EUA estaria bem na área de comunicação em São Paulo, como alguns dos seus colegas de graduação. Por outro lado, ter uma experiência no exterior sempre foi um dos seus objetivos de vida. Apesar das dificuldades que enfrentou durantes todos esses anos, ela não se lamenta de ter optado por uma vida longe da terra natal. Quando vai voltar para o Brasil? Ela continua sem saber: “Acho que meu coração vai dizer”.

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No país do business

Em 2006, Julio recebeu a proposta de abrir na América do Norte uma filial da empresa onde trabalha

Sair do Brasil. Aprender uma língua diferente. Conhecer pessoas novas e viver uma outra cultura. A aventura de viajar para fora do País faz parte dos sonhos de muitos jovens brasileiros e os Estados Unidos estão na lista dos países mais procurados pela galera. Mas, se o tal sonho americano nunca passou pela sua cabeça e de repente a empresa em que você trabalha propõe não apenas uma viagem a negócios, mas a ideia de fixar residência no exterior? Isso foi o que aconteceu com o paulista Julio Meliani, que deixou São Paulo em direção a Los Angeles, há cinco anos.

No auge da carreira de gerente na rede Chilli Beans, Julio recebeu a proposta de abrir e gerenciar a primeira filial da companhia na América do Norte. “Sinceramente, nunca havia pensado ou desejado isso, mas, com o convite, nasceu uma vontade de me tornar um imigrante na terra do Tio Sam”, explica. E, então, por causa dessa inesperada vontade, ele deixou seu endereço no Butantã e mudou-se para sua nova residência em Hollywood.

Nos primeiros meses em solo americano, a falta dos amigos e de fluência na nova língua foram as principais dificuldades encontradas. Mas, o momento mais crítico dessa nova experiência ainda estava por vir com a grande crise econômica que afetou o mundo em 2008.

Em 2010, foi inaugurada a nova loja da Chilli Beans em Santa Mônica

“Todas as áreas da economia americana simplesmente pararam. Tivemos que renegociar o aluguel da loja, demitimos funcionários e baixamos a carga horária dos que restaram. Foi realmente uma época muito difícil para os EUA”, relata. Antes da crise, as vendas geravam um bom lucro para a loja, até então a única no país. “Se o cliente gostasse de quatro peças, ele levava todas sem pestanejar. Agora, eles pensam mais nos gastos.”, explica.

Para Julio, a grande diferença entre o público brasileiro e o de Los Angeles está na relação com os vendedores. Enquanto os brasileiros gostam do auxílio na escolha do produto certo para seu perfil, os americanos preferem um serviço mais self-service. Mas eles não dispensam um vendedor apto a responder suas perguntas relativas tanto às características do produto como à marca. “Nosso papel é deixá-lo à vontade, mas também introduzi-lo à forma ‘acolhedora’ de atendimento que temos no Brasil.”

Superadas as dificuldades pessoais e de mercado, Julio diz que a qualidade de vida, o acesso à informação e à tecnologia compensam a saudade de casa. Ele acredita que se estivesse no Brasil nesses últimos cinco anos não teria mudado muito em termos profissionais, já que provavelmente continuaria trabalhando como gerente para a mesma empresa. Mas, talvez, não tivesse adquirido tantos bens materiais e nem a maturidade que uma experiência no exterior proporciona. Quando o assunto é voltar para terra natal, ele diz que a garantia dos seus direitos por lei e o crescimento econômico são alguns dos fatores que o trariam de volta, apesar de achar que a hora do regresso ainda não chegou. “O que me faria mudar para o Brasil agora seria a melhora da educação do povo e isso eu sei que só acontece com décadas e décadas.”

Fora do mundo dos business, esse paulista de 27 anos tem outro sonho: a fotografia. Em um país em que a tecnologia e os equipamentos são muito baratos e acessíveis, fica mais fácil ousar e investir no hobby. “Poderia achar vários conceitos filosóficos para definir a

Nos momentos de folga, ele dedica seu tempo à fotografia, sua grande paixão

fotografia, mas acho que ela nada mais é do que a minha forma de ver o mundo e de mostrá-lo para as pessoas”. Além disso, o fácil acesso aos cursos de formação na área e o clima ensolarado da cidade durante praticamente todo o ano também facilitam a prática da atividade.

Apesar da paixão, ele não pensa em deixar a área de administração de empresas para seguir a carreira de fotógrafo. “Quero aprender tudo que eu puder, dominar diferentes técnicas e etc. Se vier a ganhar dinheiro um dia com isso, seria legal, mas não é minha intenção inicial.”, garante. Para o futuro, os planos são bem palpáveis: “Fazer a empresa em que trabalho prosperar no mercado americano e, claro, investir tempo e dinheiro em mim e nas pessoas que eu amo”, finaliza.

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